Santo António e o Sagrado Coração: Dois ardores, um só amor

Santo António e o Sagrado Coração: Dois ardores, um só amor

Santo António e o Sagrado Coração: Dois ardores, um só amor

Chegámos a Junho, um mês muito especial para os católicos, principalmente para nós, que celebramos um dos filhos mais ilustres da nossa Nação: Santo António de Lisboa, homem da caridade e da Palavra.

Mas além dele, celebramos Aquele que deve ser o objecto do nosso amor e da nossa adoração: o Sagrado Coração de Jesus, fonte de misericórdia, milagres e prodígios. Para nós, no Santuário do Cristo Rei, esta é uma devoção que recebe especial atenção, pois o nosso monumento expõe este que é um símbolo da humanidade de Jesus e do Seu imenso amor por nós.

Ao olharmos para estas duas devoções, o que há de semelhante?

Santo António e o Coração de Jesus

Se o Sagrado Coração nos recorda a humanidade de Nosso Senhor e Seu amor misericordioso que vai além de tudo o que imaginamos, Santo António, tocado por este grande amor, amou os pobres, tocando a sua humanidade, desejando levá-los à plena e integral dignidade e dizia que “misericordioso é aquele que tem compaixão da miséria alheia”.

Vale lembrar que Santo António viveu entre 1195 e 1231 e a devoção ao Sagrado Coração só ganhou força com a aparição de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque em 1675, sendo assim, o nosso compatriota viveu antecipadamente aquilo que toda a Igreja viveria a partir da religiosa.

Ainda assim, nos seus sermões, o Doutor da Igreja falou sempre da misericórdia que brota do Coração de Jesus e do seu efeito na vida de quem se abre à vivência dela. Na homilia do 22º Domingo depois de Pentecostes, comentando a parábola do devedor cruel presente no evangelho segundo Mateus (18,21-30), ele exortou o povo de Deus dizendo:

A misericórdia do Senhor purifica a alma dos vícios, enche-a da riqueza dos carismas, cumula-a com as delícias celestiais. A primeira mortifica o coração contrito. A segunda suaviza-o para o amor. A terceira com a esperança dos bens supernos, inunda o coração com uma espécie de celeste orvalho. E isto é óbvio pela tríplice interpretação da palavra misericórdia. De facto, misericórdia quer dizer o que dá o coração miserável e isto convém à primeira misericórdia. Igualmente misericórdia significa aquele que depõe o rigor do coração e isto convém à segunda. Em terceiro lugar, misericórdia traduz-se por uma espécie de suavidade admirável que inunda o coração e isto convém à terceira. Compadecido, logo, com a tríplice misericórdia daquele servo, deixou-o ir livre e perdoou-lhe a dívida”.

Na Cruz, o valor do homem

Santo António com o seu amor e cuidado aos mais pobres, queria revelar o valor do ser humano. Morrendo na Cruz, foi justamente isso que Jesus, que teve o Seu Sagrado Coração trespassado, fez: não revelou apenas, mas pagou o preço para que tivéssemos vida e vida em abundância. Sobre isso, o Papa Bento XVI, numa audiência geral em Fevereiro de 2010

“Precisamente olhando para o Crucifixo vemos, como diz Santo António, como é grande a dignidade humana e o valor do homem. Em nenhum outro ponto se pode compreender quanto o homem vale, precisamente porque Deus nos torna tão importantes, nos vê tão importantes, que somos, para Ele, dignos do seu sofrimento; assim, toda a dignidade humana aparece no espelho do Crucifixo e olhar em sua direcção é sempre fonte do reconhecimento da dignidade humana”.

Neste sentido, compreendemos que, ao olharmos para o Coração Sagrado de Jesus e vivermos uma verdadeira e fecunda devoção a Ele, automaticamente também voltamos o nosso olhar para aquele irmão mais necessitado que sofre pela indiferença.

A exemplo de Cristo

Santo António, num dos muitos sermões que pregou, falou sobre o caminho estreito, fazendo memória do próprio Senhor que, com o coração manso e humilde, nos reconduz a Deus.

"O caminho da sabedoria é o caminho da humildade. Bem diferente é o caminho da estultícia, porque é o caminho do orgulho. Jesus mesmo no-lo mostrou quando disse: 'Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para vossas almas' (Mt 11,29). O caminho é estreito, dá apenas para dois pés, de tal modo que nenhum outro possa passar. Diz-se em Latim `semita’, isto é, “meia estrada”,`semisiter’, pois “semis” quer dizer metade e `iter’ quer dizer caminho. Caminhos da rectidão são os da pobreza e da obediência. Por eles é que Cristo te conduz com seu exemplo, ele mesmo pobre e obediente" (Sermões Dominicais e Festivos, III volume, Pádua, 1979, Ed. Messaggero Padova).

Peçamos a intercessão de Santo António para vivermos bem e de forma fecunda a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, para sermos dignos de Suas promessas.

Terça, 4 de Junho de 2024